Era uma vez um professor. Mais de setenta anos, cabelos brancos, voz forte, atento a tudo e a todos. Quando entrava em um ambiente, mais que cumprimentado, ele era festejado. Uma tarde, um de nós o encontrou na sala dos professores, grifando um texto. – Livro novo, Professor? – Uma nova edição. Tenho a primeira; esta é a terceira. Estou conferindo as alterações… Foi um diálogo breve; só mais duas ou três frases. Ele precisou sair: tinha uma aula daí a pouco, a respeito de um software novo. Como aluno. Setenta e tantos anos. Um particular prazer era, fora de aulas e compromissos, aceitar seus convites – “vamos tomar um vinho”. Era a promessa de horas agradáveis, com o pensamento livre e a palavra solta. Senso e sensibilidade se misturavam e produziam ciência da melhor qualidade: divertida e profunda. Mais que Doutor, o Prof. Penteado levava o prestigioso título, maior, de Livre Docente. Mal entendíamos o que isso significava na época. Porém, na convivência com ele, percebemos, poeticamente, a justeza do título – Livre Docente. Ele, realmente, era livre para pensar o que quisesse e ensinar com imenso prazer… e isso era bom.